segunda-feira, 2 de junho de 2008

A vingança.

Jessica abriu o chuveiro e começou a tirar a roupa, quase em desespero, como se de algo peçonhento se tratasse. Ela havia suportado quieta os muitos casos amorosos do marido. Porém, ser abandonada era algo que não iria permitir, custasse o que custasse. Jessica sentia-se suja. Entrou apressada para o banho, escorregou e caiu para trás, primeiro batendo com as costas na borda da banheira, depois, com a nuca na parede. Quando acordou, não tinha noção de quanto tempo havia estado desmaiada. Tentou virar o corpo, mas apenas o pescoço obedeceu. Jessica entrou em prantos ao ver que nenhum dos seus membros obedecia aos sinais do cérebro, que não sentia nem a água que caía sobre o corpo. Ela gritou, mas ninguém ouviria, a casa era enorme e o jardim maior ainda. Era sexta-feira, a empregada só viria na segunda de manhã. Até lá, ela poderia morrer de sede, de hipotermia ou de hemorragia. Um fio de sangue, que ela não sabia de onde vinha, escorria com a água. Ela não tinha nada a fazer, além de chorar olhando para o próprio corpo nu e inerte. No quarto, sobre a cama, restava a ela a companhia do cadáver do marido, também ele nu, com o crânio desfeito por sucessivas pauladas.

4 comentários:

Paulo Stenzel disse...

"A vingança" foi escrito ao som de "Do Not Feed The Oyster" - Stephen Malkmus

Jefferson disse...

Parabéns, gostei muito. Abraços. Jefferson Chocho

fernando lucas disse...

cool!

(in)confessada disse...

mais do que fria, a vingança serviu-se molhada..