segunda-feira, 9 de junho de 2008

O banheiro do térreo.

Clara era sempre a primeira a chegar ao Club. Era ela a responsável por repassar todo o casarão e ver se tudo funcionava bem. Ela começava pelo terraço, passava pelo restaurante do segundo andar e terminava pelo bar, no térreo. Estes eram momentos angustiantes. Ela sempre via um homem de chapéu que ficava no topo das escadas, ouvia passos nestas mesmas escadas, via pessoas que circulavam. Todos vultos, todos iguais às pessoas das fotos dos “bons tempos”, como dizia o gerente. Clara tinha um medo muito específico, o de abrir portas. Principalmente quando se tratava do banheiro feminino do térreo. Lá dentro, até o ar parecia mais pesado. E foi mesmo em frente à esta porta que o seu coração disparou ao ouvir uma voz que vinha de trás. Tratava-se de um rapaz sorridente. Disse que era o novo empregado da casa e perguntou se ela precisava de ajuda. Mais aliviada com a companhia, Clara abriu a porta e entrou confiante no banheiro. O arrependimento foi instantâneo. Lá dentro, no canto mais afastado, com a mão estendida para ela, estava o mesmo rapaz. Ele tinha a garganta cortada de onde o sangue jorrava. Clara correu para a saída, desesperada. Atrás dela, o rapaz continuou chamando: — Clara! — Voz que, até hoje, ela ainda ouve todos os dias no hospital psiquiátrico.

Um comentário:

Paulo Stenzel disse...

"O banheiro do térreo" foi escrito ao som de "Frustration"- The Whip.