quinta-feira, 24 de abril de 2008

Alma perdida.

Ele estava morto. E ele sabia disso. Já não tinha um nome, uma idade, um rosto. Era apenas um espectro invisível vagando pelas sombras da noite. De vez em quando, alguém olhava para trás ou sentia um arrepio na sua presença, mas ninguém o via. Já não havia nenhuma pessoa no mundo que lembrasse de que um dia ele tinha existido. Quando morreu, não viu nenhuma luz, nenhum anjo, nenhum túnel, nada destas coisas. Talvez ele não fosse bom o suficiente para o céu, nem tão mau que merecesse o inferno. E até mesmo o inferno seria melhor que aquela existência-não-existência. Ele viu surgirem os primeiros carros, a eletricidade, as diversas modas. Tudo mudava, menos a sua maldita condição de alma perdida, de espírito abandonado. Se fosse possível, suicidar-se-ia outra vez. Mas nem esta ilusão de controle a morte permitia. Mergulhou na neblina desejando que aquela fosse a última noite. Mas não seria.

3 comentários:

Paulo Stenzel disse...

"Alma perdida" foi escrito ao som de "The Rat" - The Walkmen.

Nuno Guronsan disse...

Bom som, esse.
E gostei muito da dismistificação da "near death experience"...

Abraço.

fernando lucas disse...

como diz um grande personagem de cinema " It's better to burn out than to fade away!"