sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ímpar.

Olaf vivia obcecado por uma religiosidade inventada por si próprio. A sua crença incluía uma fixação doentia por números ímpares: Um, o número que representa o Deus único, o homem, o pilar que tudo sustenta. Três, a Trindade, a ressurreição de Cristo no terceiro dia, a unidade familiar, os três poderes. Cinco, o número do pentagrama, dos cinco elementos. Sete, o único número sagrado em todas as culturas. Nove, o número de tudo o que é novo, do período da gestação humana. O próprio nome confunde-se com o “novo” na maior parte das línguas. Nove, o número que assinala a transição de uma fase do desenvolvimento espiritual para outra. Nove! E, gritando o nome do número, o obsessivo homem levantou o machado e desferiu um golpe firme e certeiro. Sem nenhuma manifestação de dor, Olaf apenas ergueu a mão mutilada e coberta de sangue e sorriu. Já não tinha mais dez dedos.

Um comentário:

Paulo Stenzel disse...

"Ímpar" foi escrito ao som de "Unleashed! The Large-Hearted Boy" - Guided by Voices.