terça-feira, 7 de outubro de 2008

Inimigo invisível.

O silêncio da escura madrugada foi quebrado por batidas à porta. Mas não eram simples batidas, pareciam murros de punho fechado. Alice acordou sobressaltada, olhou em volta, os olhos a adaptarem-se à escuridão, o coração disparado, a respiração ofegante. O relógio marcava três e quinze da manhã e estes números eram a única luz presente no quarto. Alice não tinha certeza se aquelas batidas faziam parte de um sonho, ou se havia mesmo alguém à porta. Só sabia que tinha medo. “Quem é?” — O som da própria voz, ecoando pelo apartamento vazio, só piorou o estado de tensão. Ela tentou prestar atenção em qualquer movimento no corredor: o elevador, a porta para as escadas, passos. Nada. Alguns móveis estalavam, ou estaria alguém dentro de casa? Alice sentia que alguém a observava, alguém parado no canto oposto do quarto. Podia ser apenas a imaginação deixando-se impressionar. Mas ela não conseguia olhar naquela direção. Virou-se para o lado da janela e encolheu o corpo em posição fetal. Era apenas um movimento instintivo, inútil contra algum perigo real. Alice chorou. Chorou de medo e de raiva. Raiva da própria covardia. Raiva da própria impotência contra um inimigo invisível.

5 comentários:

Paulo Stenzel disse...

"Inimigo invisível" foi escrito ao som de "You Can't Break A Heart And Have It" - Black Francis.

(in)confessada disse...

to be continued?

sardinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Stenzel disse...

No. Não aqui, pelo menos. Uma das intenções deste blogue é deixar o máximo possível para a imaginação de quem lê. Qual a idade de Alice? Nível cultural? Onde vive? Porque está sozinha? Qual o seu passado e que ligação isto pode ter com o medo que sente? como é esta casa? O que aconteceu depois das lágrimas? É esta abertura que eu quero deixar para a livre interpretação. Um dia, quem sabe eu não desenvolva algumas, ou mesmo todos estes contos? Quem sabe...

thiago disse...

E ae Paulo, tudo legal? Estou curtindo bastante teus contos, tb fecho 100% contigo no Lovecraft, Poe e Stephen King. Fomos colegas de Comunicação na Ulbra, lá nos anos 90 hehe. Quem me passou o link do teu blog foi o Gilmar Fraga, atualmente sou colega dele na editoria de arte da ZH aqui em PoA. Achei muito interessante esse conto do Inimigo Invisível, estou fazendo uma versão dele em quadrinhos, espero que você não se importe e goste. Depois te mostro como ficaram as (3) páginas. Vou ficar de olho aqui no teu blog, abraços!!!