segunda-feira, 14 de abril de 2008

Aniversário.

Ela foi andando em direção à última porta. De lá, vinha a débil luz de uma vela que só era evidente por causa da escuridão do resto da casa. Andava encostada à parede, os pés vacilavam. Ela passou a língua pelos lábios e tentou engolir saliva, mas a secura da boca só não era mais intensa que o suor das mãos. Ao chegar à porta e, assustada, olhar para a sala, todos os que lá estavam voltaram-se para ela. Tinham rostos sem expressão e cantavam “parabéns a você”, mas as vozes pareciam mais longe do que seria o normal àquela distância. E os movimentos, as palmas, tudo era em câmera lenta. Por trás do bolo, iluminado pela trêmula vela em forma de nove, um menino com ar fantasmagórico chorava em silêncio enquanto a encarava. Ela acordou do pesadelo muito suada e ofegante, olhou para o relógio e confirmou o que temia. Passava da meia-noite do dia sete. Era aniversário do filho que ela havia abortado há nove anos.

3 comentários:

(in)confessada disse...

este arrepiou-me

sol disse...

Arrepiou a mim tbm...

Paulo Stenzel disse...

Pode parecer um prazer mórbido, mas fico feliz com estas reações. E é sempre bom causar arrepios, não é? hehehe