A psicóloga fingia interesse, enquanto a mãe da menina narrava a fantasiosa história. Segundo a mulher, a filha conseguia prever, de forma inusitada, a morte de quem estivesse prestes a ter a vida interrompida. A criança, dizia a mãe, olhava para alguém e "via" a cara que a tal pessoa teria quando morta. E, sempre que tal sucedia, esta pessoa morria menos de um mês depois. Fora assim com o primo mais velho, a quem vira com a cara toda escura e inchada e que, uma semana depois, morrera vítima de agressão numa festa; fora assim com o avô, a quem vira a cara contorcida e que morrera na sequência de um AVC; fora assim com o vizinho que "tinha um furo do lado da testa" e que suicidara-se com um tiro. A pobre mulher dizia que estas coisas estavam deixando a família bastante assustada. A psicóloga achava tudo aquilo muito exagerado e já começava a perder a paciência. Esta era a última consulta do último dia de trabalho antes das férias. Mais uns dias e a competente psicóloga infantil seria, também, uma feliz esposa e rumaria para a tão sonhada lua-de-mel. No entanto, uma semana mais tarde, o ceticismo desapareceria pouco antes do embarque no voo para a Nova Zelândia. Por mais que tentasse, a psicóloga não conseguia afastar a lembrança da expressão assustadora da pequena menina, naquele dia, enquanto apontava para ela e gritava: " A Doutora está com a cara toda derretida".
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
"As caras da morte" foi escrito ao som de "Dark Star" - Beck.
Música e literatura. Essa combinação é fatal!
Postar um comentário