terça-feira, 17 de junho de 2008

Vidas aos pedaços.

Antiga, sombria e em estilo gótico, a Igreja de Nossa Senhora das Almas era, por si só, um tanto sinistra. Porém, naquela manhã, tudo ficaria ainda mais funesto com os gritos de uma freira. A religiosa havia encontrado um coração, na pia batismal, tingindo de sangue a água benta. Mais adiante, encontraria uma perna num genuflexório, um braço no colo da imagem de Nossa Senhora, um pênis num confessionário e uma cabeça no altar. Por toda a cidade, todas as igrejas haviam amanhecido presenteadas com partes de corpos humanos esquartejados. Para investigar o caso, foi chamado o respeitado detetive Hermes. Sem precisar examinar muito o caso, o detetive já sabia que as partes não eram todas do mesmo corpo e que as vítimas eram padres. Padres aos pedaços. Irônico, também ele havia tido a vida despedaçada por um Padre. Hermes nunca falava da sua vida pessoal, por isso, ninguém imaginava os abusos sexuais que havia sofrido na infância. Aos colegas, bastava saber que aquele era o melhor detetive de homicídios. Porém, desta vez, Hermes já sabia que teria o seu primeiro caso sem solução. Passou a mão pelo pentagrama invertido que trazia pendurado ao peito, sorriu discretamente e continuou na igreja, observando mais um dos seus bem guardados segredos.

3 comentários:

Paulo Stenzel disse...

"Vidas aos pedaços" foi escrito ao som de "In the Aeroplane Over the Sea" - Neutral Milk Hotel

Nuno Guronsan disse...

Arrepiante... Até porque ficamos quase com a sensação que se tratam de execuções justificáveis, como se um tormento infligido em tão tenra idade seria razão mais do que suficiente para retalhar uns quantos homens do clero... E encontrar uma pia batismal encharcada de água manchada de vermelho vivo.... Arrepiante...

Bravo, Paulo. Os teus contos continuam a ser lancinantes (não me ocorre melhor palavra)!

quETzalcoatl disse...

liiiiiiiindo!!!


tens grandes cenas neste blogue!!!



adoreiiiiiiiiiii



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