sexta-feira, 11 de abril de 2008

O medo das sombras.

O pai sempre tinha uma explicação para todos os medos. Para ele, aquelas figuras grotescas não passavam das sombras das árvores projetadas nas paredes do quarto. O movimento era culpa do vento nos galhos. Os ruídos não eram mais que o estalar da madeira dos móveis. E a horripilante risada era apenas imaginação da filha. Ela não pensava assim, ela ouvia passos naqueles ruídos, via mãos enormes com longos dedos, bocas com dentes afiados, tudo feito de sombras, sim, mas não eram mera projeção. A risada era muito real, entrava na alma e causava arrepios que percorriam todo o corpo. Quando, naquela noite, os braços de sombras saíram das paredes e a arrastaram até desaparecer na escuridão, em meio ao pânico, ela ainda teve tempo para pensar: amanhã, o pai vai ver como eu tinha razão.

4 comentários:

Nuno Guronsan disse...

Os meus parabéns, Paulo. Estes pequeninos contos são de uma minúcia arrepiante. Gostei imenso de os ler, especialmente este. A última frase é um autêntico abanão literário. Fico à espera de mais.

Abraço.

Paulo Stenzel disse...

Ei, Nuno, obrigado. Gostei do "abanão literário". São comentários destes que nos dão vontade de escrever mais e de ir aprimorando a escrita.

sol disse...

Amei este. Algo que nos reporta à infância?
Bjks

Paulo Stenzel disse...

Oh, que bom receber aqui os raios de Sol. Fico feliz por ter a visita dos representantes do meu "público preferido".